Agua

E acontece aquele dia em que olho ao meu redor e vejo como se tudo se afastasse...
Entao me sinto so, desamparada, com as maos na cabeca, agaixada, em posicao de protecao...
E entao, e como se tudo mudasse de cena, eu conseguisse regressar ao passado, assistindo minha infancia como que atraves de uma tela, depois minha adolescencia, junto com meus amigos, ou na escola, rindo e feliz.
E e quando eu comeco a me recordar dos planos que tinha pra minha vida, ha muitos anos, e e quando chego a conclusao de quantos eu ja realizei e quantos eu ainda tenho a realizar... e, ainda, quantos somente fazem parte dos meus sonhos de crianca...
Quando se e crianca, e quando se sonha, se pensa em toda felicidade propiciada na realizacao de um sonho. Nao se pensa nos meios para obte-los, nem nos percausos que tera durante a trajetoria. E e tudo lindo, perfeito, inesquecivel - mesmo que nao se tenha vivido...
E por varias vezes, quando comeco a perder essa felicidade de realizacao, no meio do caminho, sinto como se o sonho ja nao valesse mais a pena, nao fizese mais sentido... me sinto vazia, e nao consigo ver mais aventura e emocao, ja nao existe mais o que sonhar... ja nao existe mais objetivo. E essa ansia por algo novo e desespero por nao desfrutar de algo que tanto almejei me torna atordoada, infeliz, perdida, confusa.
E recordo do passado, projeto o futuro e SIMPLESMENTE nao consigo viver o presente sem restricoes. Me culpo pelo que perdi, mas nao consigo ver sentido no que ainda posso fazer...
Crazy e a unica palavra que me faz descrever esse sentimento que domina meu ser. Nao consigo ter exatamente a data de quando apareceu, e nao consigo presumir uma data para acabar.
Nao sei se vai acabar ou quando vai acabar, so sei que quero viver o que ainda esta por vir. Mas nao consigo...
Me sinto como a procurar por agua no deserto: ando, ando, ando... tudo com que sonho e um poco. Entao visualizo o poco e minha energia se renova, assim como minha esperanca. Surge um objetivo. Me empenho, nao consigo prestar atencao no cansaco anterior; nao ha obstaculo que me impeca de chegar. Sigo em frente... Chego ao poco, olhos de encantamento e fascinacao. Vejo tudo com admiracao, ao meu redor. Sorrio, tento guardar cada segundo daquele incrivel momento. Inacreditavel e o que penso. Felicidade e o que sinto. Ha significacao em cada simples movimento... toda a areia dourada pelo sol, as dunas desenhadas pelo vento, o prazer de minha pele suada sendo banhada pela agua fresca. Entao a agua escorre por minha boca, garganta e refresca todo meu corpo. Me traz prazer e surrealismo. Me perco no prazer da agua e nao paro de beber ate que me sinto cheia...
E depois de tomar agua, sentar, descansar, toda a beleza e admiracao vao embora. O desafio de conseguir chegar ao poco, sem morrer, acabou, nao existe mais!
A aventura de andar tanto, a espera ardente de ser realmente um poco e nao apenas uma miragem tem seu fim.
O sol ja nao torna a areia tao dourada. Nem os ventos tornam as dunas tao intrigantes.
E entao qual o objetivo? Enxer o galao de agua e procurar o caminho de volta pra casa? Nada mais?
E isso que me deixa triste, falta de emocao, de entusiasmo, a falta de beleza nas coisas comuns e a falta de beleza incomum nas pequenas coisas. E o que sao as grandes coisas se ja nao conseguimos contemplar as pequenas?! Somente coisas... e entao eu fico entediada...